Dias atrais um amigo, o professor Carlos, convido-me para colaborar com um grupo que apresentaria uma Chapa de oposição num Sindicato dos Auxiliares de Educação (porteiros, vigias, arquivistas, estoquistas, secretarias, faxineiros, merendeiras etc).
Trata-se de uma categoria ameaçada de extinção no DF. È conhecida a disposição dos governantes modernos, pela terceirização e privatização, acho que o sonho da maioria deles é colocar um Mc Donald dentro de cada colégio.
Cheio de disposição comecei a escrever o jornal e os panfletos de propaganda que seria usado na campanha, estávamos com pouco tempo (três semanas no máximo).
O pouco tempo para trabalhar, fazia parte da estratégia da Situação, que marcou a eleição encima da hora, para atrapalhar a Oposição.
Os dirigentes que detêm o poder, controlam o Sindicato a trinta anos, acatam orientações de “Articulação” que é a principal corrente classista dentro da Cut, braço sindical que sustenta o PT e o governo.
Ante tamanho adversário as chances de vencer são remotas, isso tudo mundo sabe, mais a desconformidade de muita gente da Categoria, levou a que, rapidamente conformaram não apenas uma, mas duas chapas de oposição. A nossa era a “Chapa 2” apoiada pela CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Em poucos dias foram compostas as Chapas, com trinta membros, e começamos a buscar fiscais para a eleição, que se comporia com cento quatro urnas, vinte delas fixas e as restantes seriam itinerantes, ou seja, passariam por varias escolas para que os filiados pudessem votar, e passariam duas vezes, dois dias seguidos, uma vez pela manhã e outra pela tarde, assim, todos votariam. Cada equipe estaria integrada por um motorista, e um integrante de cada chapa, os presidentes de mesa se nomeariam de forma alternado correspondendo um a cada chapa.
Eram duas urnas, uma para votar na chapa da Diretoria e outra, para votar nos membros do Conselho Fiscal.
Assim fui ficando e participando de todo o processo (campanha, eleição e apuração).
Todo exercício democrático tem sua áurea mística e seu encanto popular, resultando um ótimo aprendizado em qualquer idade.
Numa reunião previa com os colaboradores, que trabalhariam para nossa Chapa, junto a uma centena de pessoas onde a metade estava participando por primeira vez de um processo eleitoral, deu para sentir das dificuldades que enfrentaríamos.
As eleições seriam na quarta e quinta feira, começando às oito horas, finalizando por volta das vinte horas.
Para integrar a Comissão Eleitoral vieram de outros Sindicatos, dirigentes experientes a fim de não permitir que nada escapasse ao controle da Comissão, esse intercambio é normal entre Sindicato que tem a mesma orientação e afinidade ideológica.
Na quarta feira acordei as cinco da manhã. Passavam das oito horas, quando as primeiras equipes foram constituídas e marcharam a recolher votos, primeiro as mais distantes, Zona Rural, Entorno, em seguida as áreas urbanas mais numerosas. Isto parecia uma estratégia da “Chapa 1” , pois disseram que se uma chapa da oposição não tiver os mesários para todas as Urnas, faltariam representantes da oposição, como todas as três chapas preencheram todas as vagas de mesários, isto não passo de um boato.
O começo da jornada foi carregado de muito nervosismo, tudo mundo querendo começar logo, apenas as dez e quarenta, fui designado para coordenar a Urna 94, que seria itinerante, passando por oito escolas de Taguatinga Norte.
O fato de coordenar a mesa era uma responsabilidade extra, pois quem conduz o processo é o presidente, que neste caso era eu. Faziam parte de minha equipe duas jovens senhoras muito amigáveis, representando as outras duas chapas, uma delas tinha experiência eleitoral, já que participo no ano anterior. O motorista era um jovem musico que conhecia a região, coisa muito importante tratando-se de Brasília, que é uma cidade onde as ruas não têm nome deixando qualquer visitante totalmente desorientado.
Toda a manhã transcorreu normalmente e às treze horas paramos para almoçar, cada um de nos recebeu dez reais para o almoço, o restante da ajuda (mais trinta reais) seria pago a noite, ao entregar a urna.
A segunda parte dessa primeira jornada eleitoral, não seria tão tranqüila, e a Urna 94 entraria para minha memória, veja porque.
Durante o almoço, varias chamadas telefônicas foram feitas, ao celular, de uma das companheiras, como apenas ela disponha de telefone, muitas pessoas começaram a ligar, pessoas ligada ao processo, das Chapas, da Camisão Eleitoral, do Sindicato querendo saber como estava transcorrendo o pleito, onde estávamos. Enfim todos. Ela não gostou de tanta perturbação na hora de comer e parou de atender.
Por remorso e obrigação, comecei a atender as ligações.
Falar ao telefone no meio do bife, foi desgostoso, durante a sobremesa, muito desconfortável, mais enquanto bebia um cafezinho e fumava um cigarro, na sombra de uma árvore, perdi a paciência, mandei esperar quem quer que fosse que estiver falando, Não poderia ser incomodado naquela hora, assim, o telefone foi desligado e a gente teve um pouco de sossego.
Foi no caminho para próxima escola, quando íamos retomar nosso labor que os problemas começaram.
Não achamos o caminho correto de uma escola que estava a duzentos metros e fomos parar três quilômetros de distancia, até hoje não consigo explicar tal “cochilo”.
Após retornar todo o caminho, e, finalmente encontrar a escola determinada em nosso roteiro, encontramos nos esperando, duas equipes: um da Chapa 1 e outra da Chapa 3. Todos estavam nervosos com nosso sumiço, preocupados com a demora e furiosos pelo telefone desligado.
No dia seguinte fiquei sabendo, que foi nessa hora que alguém ligou para uma diretora da Chapa 2 pedindo para entrar na justiça com uma impugnação para a eleição, o motivo: um argentino tinha sumido com a Urna 94 em Taguatinga.
A calunia de sumir com uma Urna não doeu tanto como ser considerado de argentino em tal circunstancia, com todo respeito aos “hermanos”, pois eu sou uruguaio.
Logo vi que os fiscais não estavam dispostos a facilitar nossa vida, em vários momentos naquela tarde eu tive que respirar fundo e contar até dez.
Uma senhora votou com o xérox da identidade, exigiram que fosse registrado em ata, coisa que menosprezei, (nossa orientação era facilitar a vida do votante). Duas colegas que votaram juntas, ficaram cochichando na hora de votar, nessa hora fui chamado a atenção por que o voto é secreto e eu como presidente da mesa não podia permitir tal desproposito.
Estes foram apenas alguns exemplos das pressões que sofremos. Minha paciência foi se encurtando as companheiras da mesa foram ficando estressadas pela marcação cerrada encima delas, como se elas tivessem que ser inimiga.
As urnas bastante usadas, mal conservadas vieram para complicar nossa tarefa, quando do nada, uma delas se abre, dentro do carro, ficamos olhando, todos os quatro para ela com um misto de medo e raiva. Com os fiscais das chapas por perto, não queria pensar se eles descobrissem que a Urna 94 sempre esteve aberta e sua chave nunca funcionou, é quase seguro, que terminava na Delegacia.
No final, na ultima escola após lavrar a ata e lacrar a urna com adesivos e fita, sendo tudo apreciado pelos fiscais e tudo mundo assinar, nos encaminhamos a base.
Nosso motorista contou que escutou uma conversa onde uma fiscal avisava que a Urna 94, estava cheia de problemas e suspeitava que o representante da sua Chapa não estava sendo parcial e combativo.
Com esse clima rarefeito, chegamos ao Clube que serviria como Sede da Eleição. CELACAP é um Clube bem brasiliense, cômodo, muito amplo, um dos seus vários grandes salões, era todo de vidro, onde ficariam as urnas, uma do lado da outra, dormindo até a apuração do dia seguinte. Um grupo de “homens de preto” garantiam a segurança, uma equipe de apoio executava o andamento do pleito, a isso agregue dez computadores novinhos, com seus respectivos digitadores, era uma estrutura imponente para um sindicato de 18.000 filiados onde só um terço votaria.
O final do primeiro dia foi cheio de nervosismo, os grupos estavam em pé de guerra, mais sem atos de violência, muito longe de eleições do passado, por mim vividas, onde o sangue corria (literalmente), esta eleição não tem a rixa direita /esquerda, tornando-a muito civilizada e pacata.
O segundo dia de eleição iniciou muito cedo, e logo começaram os problemas. A “Chapa 3” queria trocar todos seus delegados de mesa, a comisão reclamou que iria demorar, mais acabou tendo que aceitar resultado: as equipes seriam todas diferentes do dia anterior, eu só estava preocupado com o motorista, ele já tinha feito tudo o percurso no dia anterior e agora tinha que repetir, mas no sentido inverso, eu receava que nos perdêssemos novamente, por isso foi um alívio quando o vi na fila em meio a uma centena de carros.
Assim, com dois companheiros novos, um deles também musico, fez logo amizade com o motorista. Meu grupo estava na luta para buscar os votos da categoria, e com harmonia, coisa que eu queria muito, pois a jornada que teríamos que enfrentar seria longa.
O dia transcorreu muito mais tranquilo que o anterior, a oposição ainda com esperanças, tinha a percepção que a “Chapa 1” deveria ganhar.
Voltamos a todas as escolas do dia anterior, agora já conhecíamos o caminho e as pessoas, tudo foi mais ameno.
Como escritor, estou acostumado junto a minha esposa, também escritora, a visitar escolas, trabalhando com oficinas, fazendo palestras etc., sempre tratando com os Diretores, coordenadores pedagógicos e ser tratados com deferência, como representantes do sindicato, fomos tratados com indiferença e encaminhados à sala dos auxiliares, geralmente salas escondidas e mal iluminadas, essa é a realidade da categoria. Uma Classe onde todos ganham bem, a maioria deles chega ao trabalho em carros novos, ali encontramos vários analfabetos funcionais e muitos analfabetos digitais, inaceitável para uma categoria que trabalha com educação. Como podem ver, trabalho para o Sindicato não deve faltar.
Já eram dezoito horas quando empreendemos o regresso. O clima era de nervosismo e apreensão, a última urna chegou depois das vinte horas, somente às vinte e uma horas a Comissão Eleitoral começou uma reunião tensa, com a presença de dois advogados, gerou suspeitas. A Oposição também mandou uma advogada para acompanhar os debates que começaram a esquentar.
A Comissão tinha um problema: seu programa de computador para a apuração, não estava funcionando direito, já que não identificava os votos em separado (aqueles que votaram fora de sua jurisdição), isto admitia uma duplicidade de votos, o que não garantia a lisura do pleito.
A Comissão tinha medo que a eleição fosse impugnada, na Situação seu principal referente só foi habilitado por uma liminar que chegou na última reunião, na noite anterior as eleições.
A desconfiança era geral, logo após três horas de reunião, mais de quinhentas pessoas esperavam do lado de fora, iniciarem a apuração, mais Oposição e Situação, continuavam uma discussão interminável.
Passava da meia-noite dentro do salão, a decisão chegava ao final: suspenderam a apuração para o dia seguinte. Lá fora, o frio e o álcool, deixavam os ânimos bastante alterados, com ameaças de invasão, que a segurança ostensiva desencorajou.
Na madrugada se dispersou a multidão, mastigando sua decepção, e a equipe de apoio recomeçou a digitar os dados novamente, em um esforço exagerado, como querendo justificar um investimento desmesurado para o tamanho do pleito.
Já passava da meia-noite quando, se acordou que na manhã seguinte, a partir das dez horas, começariam a contar os votos, foi uma decisão difícil, a Oposição exigia transparência, a Situação ciente que ganharia, tinha o temor de “escorregar” e que a eleição fosse impugnada, para todos era necessário uma gestão limpa e transparente.
No terceiro dia consecutivo acordamos cedo e chegamos ao CELACAP, essa noite se realizaria uma festa ali, isto condicionava a entrega do clube limpo. No período da tarde, tendo em vista a contra partida da limpeza do ambiente, a apuração do Conselho Fiscal foi adiada para a semana seguinte (estávamos na sexta feira), todas as urnas do Conselho Fiscal foram entregue a uma empresa de segurança, que as guardou num Carro Forte.
Todo o processo de apuração correu normalmente com um breve intervalo para o almoço, às 16 horas se confirmava o que todos imaginavam: a Chapa 1, ganho por ampla margem (70 % dos votos).
O processo foi concluído na terça feira seguinte, com a apuração do Conselho Fiscal.
Os mais de 5.000 votos demoraram quase uma semana para serem apurados, um recorde.
Assim foi nosso exercício da democracia, é quase certo que me lembrarei desta eleição por muito tempo e, muitos, não esqueceram da Urna 94 que foi roubada por um argentino em Taguatinga Norte. Como esquecer?
Trata-se de uma categoria ameaçada de extinção no DF. È conhecida a disposição dos governantes modernos, pela terceirização e privatização, acho que o sonho da maioria deles é colocar um Mc Donald dentro de cada colégio.
Cheio de disposição comecei a escrever o jornal e os panfletos de propaganda que seria usado na campanha, estávamos com pouco tempo (três semanas no máximo).
O pouco tempo para trabalhar, fazia parte da estratégia da Situação, que marcou a eleição encima da hora, para atrapalhar a Oposição.
Os dirigentes que detêm o poder, controlam o Sindicato a trinta anos, acatam orientações de “Articulação” que é a principal corrente classista dentro da Cut, braço sindical que sustenta o PT e o governo.
Ante tamanho adversário as chances de vencer são remotas, isso tudo mundo sabe, mais a desconformidade de muita gente da Categoria, levou a que, rapidamente conformaram não apenas uma, mas duas chapas de oposição. A nossa era a “Chapa 2” apoiada pela CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Em poucos dias foram compostas as Chapas, com trinta membros, e começamos a buscar fiscais para a eleição, que se comporia com cento quatro urnas, vinte delas fixas e as restantes seriam itinerantes, ou seja, passariam por varias escolas para que os filiados pudessem votar, e passariam duas vezes, dois dias seguidos, uma vez pela manhã e outra pela tarde, assim, todos votariam. Cada equipe estaria integrada por um motorista, e um integrante de cada chapa, os presidentes de mesa se nomeariam de forma alternado correspondendo um a cada chapa.
Eram duas urnas, uma para votar na chapa da Diretoria e outra, para votar nos membros do Conselho Fiscal.
Assim fui ficando e participando de todo o processo (campanha, eleição e apuração).
Todo exercício democrático tem sua áurea mística e seu encanto popular, resultando um ótimo aprendizado em qualquer idade.
Numa reunião previa com os colaboradores, que trabalhariam para nossa Chapa, junto a uma centena de pessoas onde a metade estava participando por primeira vez de um processo eleitoral, deu para sentir das dificuldades que enfrentaríamos.
As eleições seriam na quarta e quinta feira, começando às oito horas, finalizando por volta das vinte horas.
Para integrar a Comissão Eleitoral vieram de outros Sindicatos, dirigentes experientes a fim de não permitir que nada escapasse ao controle da Comissão, esse intercambio é normal entre Sindicato que tem a mesma orientação e afinidade ideológica.
Na quarta feira acordei as cinco da manhã. Passavam das oito horas, quando as primeiras equipes foram constituídas e marcharam a recolher votos, primeiro as mais distantes, Zona Rural, Entorno, em seguida as áreas urbanas mais numerosas. Isto parecia uma estratégia da “Chapa 1” , pois disseram que se uma chapa da oposição não tiver os mesários para todas as Urnas, faltariam representantes da oposição, como todas as três chapas preencheram todas as vagas de mesários, isto não passo de um boato.
O começo da jornada foi carregado de muito nervosismo, tudo mundo querendo começar logo, apenas as dez e quarenta, fui designado para coordenar a Urna 94, que seria itinerante, passando por oito escolas de Taguatinga Norte.
O fato de coordenar a mesa era uma responsabilidade extra, pois quem conduz o processo é o presidente, que neste caso era eu. Faziam parte de minha equipe duas jovens senhoras muito amigáveis, representando as outras duas chapas, uma delas tinha experiência eleitoral, já que participo no ano anterior. O motorista era um jovem musico que conhecia a região, coisa muito importante tratando-se de Brasília, que é uma cidade onde as ruas não têm nome deixando qualquer visitante totalmente desorientado.
Toda a manhã transcorreu normalmente e às treze horas paramos para almoçar, cada um de nos recebeu dez reais para o almoço, o restante da ajuda (mais trinta reais) seria pago a noite, ao entregar a urna.
A segunda parte dessa primeira jornada eleitoral, não seria tão tranqüila, e a Urna 94 entraria para minha memória, veja porque.
Durante o almoço, varias chamadas telefônicas foram feitas, ao celular, de uma das companheiras, como apenas ela disponha de telefone, muitas pessoas começaram a ligar, pessoas ligada ao processo, das Chapas, da Camisão Eleitoral, do Sindicato querendo saber como estava transcorrendo o pleito, onde estávamos. Enfim todos. Ela não gostou de tanta perturbação na hora de comer e parou de atender.
Por remorso e obrigação, comecei a atender as ligações.
Falar ao telefone no meio do bife, foi desgostoso, durante a sobremesa, muito desconfortável, mais enquanto bebia um cafezinho e fumava um cigarro, na sombra de uma árvore, perdi a paciência, mandei esperar quem quer que fosse que estiver falando, Não poderia ser incomodado naquela hora, assim, o telefone foi desligado e a gente teve um pouco de sossego.
Foi no caminho para próxima escola, quando íamos retomar nosso labor que os problemas começaram.
Não achamos o caminho correto de uma escola que estava a duzentos metros e fomos parar três quilômetros de distancia, até hoje não consigo explicar tal “cochilo”.
Após retornar todo o caminho, e, finalmente encontrar a escola determinada em nosso roteiro, encontramos nos esperando, duas equipes: um da Chapa 1 e outra da Chapa 3. Todos estavam nervosos com nosso sumiço, preocupados com a demora e furiosos pelo telefone desligado.
No dia seguinte fiquei sabendo, que foi nessa hora que alguém ligou para uma diretora da Chapa 2 pedindo para entrar na justiça com uma impugnação para a eleição, o motivo: um argentino tinha sumido com a Urna 94 em Taguatinga.
A calunia de sumir com uma Urna não doeu tanto como ser considerado de argentino em tal circunstancia, com todo respeito aos “hermanos”, pois eu sou uruguaio.
Logo vi que os fiscais não estavam dispostos a facilitar nossa vida, em vários momentos naquela tarde eu tive que respirar fundo e contar até dez.
Uma senhora votou com o xérox da identidade, exigiram que fosse registrado em ata, coisa que menosprezei, (nossa orientação era facilitar a vida do votante). Duas colegas que votaram juntas, ficaram cochichando na hora de votar, nessa hora fui chamado a atenção por que o voto é secreto e eu como presidente da mesa não podia permitir tal desproposito.
Estes foram apenas alguns exemplos das pressões que sofremos. Minha paciência foi se encurtando as companheiras da mesa foram ficando estressadas pela marcação cerrada encima delas, como se elas tivessem que ser inimiga.
As urnas bastante usadas, mal conservadas vieram para complicar nossa tarefa, quando do nada, uma delas se abre, dentro do carro, ficamos olhando, todos os quatro para ela com um misto de medo e raiva. Com os fiscais das chapas por perto, não queria pensar se eles descobrissem que a Urna 94 sempre esteve aberta e sua chave nunca funcionou, é quase seguro, que terminava na Delegacia.
No final, na ultima escola após lavrar a ata e lacrar a urna com adesivos e fita, sendo tudo apreciado pelos fiscais e tudo mundo assinar, nos encaminhamos a base.
Nosso motorista contou que escutou uma conversa onde uma fiscal avisava que a Urna 94, estava cheia de problemas e suspeitava que o representante da sua Chapa não estava sendo parcial e combativo.
Com esse clima rarefeito, chegamos ao Clube que serviria como Sede da Eleição. CELACAP é um Clube bem brasiliense, cômodo, muito amplo, um dos seus vários grandes salões, era todo de vidro, onde ficariam as urnas, uma do lado da outra, dormindo até a apuração do dia seguinte. Um grupo de “homens de preto” garantiam a segurança, uma equipe de apoio executava o andamento do pleito, a isso agregue dez computadores novinhos, com seus respectivos digitadores, era uma estrutura imponente para um sindicato de 18.000 filiados onde só um terço votaria.
O final do primeiro dia foi cheio de nervosismo, os grupos estavam em pé de guerra, mais sem atos de violência, muito longe de eleições do passado, por mim vividas, onde o sangue corria (literalmente), esta eleição não tem a rixa direita /esquerda, tornando-a muito civilizada e pacata.
O segundo dia de eleição iniciou muito cedo, e logo começaram os problemas. A “Chapa 3” queria trocar todos seus delegados de mesa, a comisão reclamou que iria demorar, mais acabou tendo que aceitar resultado: as equipes seriam todas diferentes do dia anterior, eu só estava preocupado com o motorista, ele já tinha feito tudo o percurso no dia anterior e agora tinha que repetir, mas no sentido inverso, eu receava que nos perdêssemos novamente, por isso foi um alívio quando o vi na fila em meio a uma centena de carros.
Assim, com dois companheiros novos, um deles também musico, fez logo amizade com o motorista. Meu grupo estava na luta para buscar os votos da categoria, e com harmonia, coisa que eu queria muito, pois a jornada que teríamos que enfrentar seria longa.
O dia transcorreu muito mais tranquilo que o anterior, a oposição ainda com esperanças, tinha a percepção que a “Chapa 1” deveria ganhar.
Voltamos a todas as escolas do dia anterior, agora já conhecíamos o caminho e as pessoas, tudo foi mais ameno.
Como escritor, estou acostumado junto a minha esposa, também escritora, a visitar escolas, trabalhando com oficinas, fazendo palestras etc., sempre tratando com os Diretores, coordenadores pedagógicos e ser tratados com deferência, como representantes do sindicato, fomos tratados com indiferença e encaminhados à sala dos auxiliares, geralmente salas escondidas e mal iluminadas, essa é a realidade da categoria. Uma Classe onde todos ganham bem, a maioria deles chega ao trabalho em carros novos, ali encontramos vários analfabetos funcionais e muitos analfabetos digitais, inaceitável para uma categoria que trabalha com educação. Como podem ver, trabalho para o Sindicato não deve faltar.
Já eram dezoito horas quando empreendemos o regresso. O clima era de nervosismo e apreensão, a última urna chegou depois das vinte horas, somente às vinte e uma horas a Comissão Eleitoral começou uma reunião tensa, com a presença de dois advogados, gerou suspeitas. A Oposição também mandou uma advogada para acompanhar os debates que começaram a esquentar.
A Comissão tinha um problema: seu programa de computador para a apuração, não estava funcionando direito, já que não identificava os votos em separado (aqueles que votaram fora de sua jurisdição), isto admitia uma duplicidade de votos, o que não garantia a lisura do pleito.
A Comissão tinha medo que a eleição fosse impugnada, na Situação seu principal referente só foi habilitado por uma liminar que chegou na última reunião, na noite anterior as eleições.
A desconfiança era geral, logo após três horas de reunião, mais de quinhentas pessoas esperavam do lado de fora, iniciarem a apuração, mais Oposição e Situação, continuavam uma discussão interminável.
Passava da meia-noite dentro do salão, a decisão chegava ao final: suspenderam a apuração para o dia seguinte. Lá fora, o frio e o álcool, deixavam os ânimos bastante alterados, com ameaças de invasão, que a segurança ostensiva desencorajou.
Na madrugada se dispersou a multidão, mastigando sua decepção, e a equipe de apoio recomeçou a digitar os dados novamente, em um esforço exagerado, como querendo justificar um investimento desmesurado para o tamanho do pleito.
Já passava da meia-noite quando, se acordou que na manhã seguinte, a partir das dez horas, começariam a contar os votos, foi uma decisão difícil, a Oposição exigia transparência, a Situação ciente que ganharia, tinha o temor de “escorregar” e que a eleição fosse impugnada, para todos era necessário uma gestão limpa e transparente.
No terceiro dia consecutivo acordamos cedo e chegamos ao CELACAP, essa noite se realizaria uma festa ali, isto condicionava a entrega do clube limpo. No período da tarde, tendo em vista a contra partida da limpeza do ambiente, a apuração do Conselho Fiscal foi adiada para a semana seguinte (estávamos na sexta feira), todas as urnas do Conselho Fiscal foram entregue a uma empresa de segurança, que as guardou num Carro Forte.
Todo o processo de apuração correu normalmente com um breve intervalo para o almoço, às 16 horas se confirmava o que todos imaginavam: a Chapa 1, ganho por ampla margem (70 % dos votos).
O processo foi concluído na terça feira seguinte, com a apuração do Conselho Fiscal.
Os mais de 5.000 votos demoraram quase uma semana para serem apurados, um recorde.
Assim foi nosso exercício da democracia, é quase certo que me lembrarei desta eleição por muito tempo e, muitos, não esqueceram da Urna 94 que foi roubada por um argentino em Taguatinga Norte. Como esquecer?
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