19 de mai. de 2009

Mario Benedetti


Serve-me e não me serve
A esperança tão doce
tão polida tão triste
a promessa tão leve
não me serve

Não me serve tão mansa
a esperança

A raiva tão submissa
tão débil tão humilde
o furor tão prudente
não me serve

Não me serve tão sabia
tanta raiva

O grito tão exato
se o tempo o permite
alarido tão pulcro
não me serve

Não me serve tão bom
tanto trovão

A coragem tão dócil
a bravura tão mole
a intrepidez tão lenta
no me serve

Não me serve tão fria
a ousadia

Sim me serve a vida
que é vida até morrer
o coração alerta
sim me serve

Me serve quando avança
a confiança

Me serve teu olhar
que é generoso e firme
e tu silencio franco
sim me serve

Me serve a medida
de tua vida

Me serve teu futuro
que é um presente livre
e tua luta de sempre
sim me serve

Me serve tua batalha
sem medalha

Me serve a modéstia
de teu orgulho possível
e tua mão segura
sim me serve

Me serve teu caminho.
Companheiro.





Nunca publicamos em nossos blogs textos de nenhum outro escritor, chegou a hora de inovar. Hoje queremos homenagear a um escritor uruguaio que acaba de falecer, América e o mundo se dobram ante o silêncio de Mario Benedetti. No Brasil, pela escassez de traduções ele não é tão conhecido. Para nossos amigos uma pequena mostra do talento do grande poeta Mario.

14 de mai. de 2009

O Homen e o Mito

A historia guarda um lugar muito especial para um seleto grupo de pessoas também especiais. Certamente Obdulio Varela faz parte deste grupo. Ele não transcendeu pela sua longa e vitoriosa carreira de futebolista, nem pela sua luta por vencer o alcoolismo, si quer por suas reservas morais e éticas, quem o colocou na historia foi apenas uma atitude pessoal, uma ação que não duro mais de 2 minutos, suficiente para ser incluída como exemplo nos cursos de mestrado de sociologia de varias faculdades do país.
Obdulio nasceu pobre e pobre morreu, não poderia ser diferente, suas formas de ver o mundo e senso de justiça social batiam de frente com o incipiente profissionalismo que começava a se engendrar por aqueles anos.
O apelido que ficou conhecido foi “vinacho” pela sua afecção pelo néctar das uvas, mais isso foi antes da grande final, logo seria apontado como “negro jefe”, “gran capitan” ou “Leão de Maracanã”. E assim entrou na historia.
O alcoolismo consegue vencer com apoio da família, dos amigos, ficou um ano sem jogar mais voltou e melhor do que era antes.
Quando joga a final do mundial de 1950 fazia já oito anos que era capitão do time, tinha enfrentado muitas vezes o Brasil, ganhado e perdido. A última vez, uns meses antes com vitória brasileira por 2 a 1; o jogo da seleção “canarinho” era bem “manjado”: toque e gol, toque e gol, depois que entra um, abre-se a porteira e é goleada.
Foi este conhecimento do jogo do adversário que leva a Obdulio a paralisar a partida, necessitava esfriar o rival e revitalizar a moral do seu time. Foi justamente nesta hora que a historia o escolhe para ser imortal. Brasil abre o placar com gol de Friaça e o bandeirinha marca impedimento no começo da jogada, mais o gol e o rugido de 200.000 fanáticos o levam a se retratar e nunca mais reconhecer a nulidade da jogada. Anular aquele gol poderia significar um risco muito alto para a saúde da trio arbitral.
Naquele momento o capitão sabe do risco que correm, caminha lentamente até seu próprio gol recolhe a bola que o goleiro Maspoli, abatido, se negava a repor e a coloca embaixo de seu braço, então começa a caminhada para a gloria. Primeiro reclama com o bandeirinha, depois com o juiz. Ele não fala inglês e o juiz não fala espanhol, um interprete é chamado segundo marca a regra; e assim passa se o tempo, o tempo necessário para que a multidão passe da louca alegria ao nervosismo raivoso, os jogadores impacientes, a torcida enfurecida, e ele lá, com a bola embaixo do braço passeava pelo campo, como um general onipotente.
Antes de começar o jogo pediu a seus companheiros para não olharem para as arquibancadas, sabe o poder de intimidação que exercem as multidões. Agora, com o jogo parado faz exatamente o contrario: olha de maneira desafiadora a multidão que o insulta, e ele sereno, sem soltar a bola, se torna alvo do ódio da turma que grita: “Filho da puta!!! Filho da puta...”, podem imaginar esse coro de 200.000 vozes? Suficiente para deixar os jogadores desassossegados e nervosos. Quando recomeça o jogo apenas fala para seus companheiros: “O jogo começa agora.”
O resultado a gente conhece: Uruguai apertou as marcas, começou a atacar, mais pela direita onde Giglia infernizava a Bigode e, acabou virando o jogo.
No Rio de Janeiro ninguém duvidava da vitória, a festa estava pronta, guarda de honra e banda de musica amimariam a entrega da taça.
O presidente da Fifa, Jules Rimet tinha ensaiado o discurso que faria para aquela multidão extasiada, o percurso entre o palco e o campo de jogo é longo, quando Jules Rimet empreende a caminhada por corredores e escadas o jogo esta 1 a 1, este resultado da o titulo ao Brasil, até ali ninguém duvidava disso, quando ele chega ao campo o silencio é pesado, Uruguai acabava de virar o jogo pouco antes de terminar.
O apito do juiz desata um pandemônio no campo de jogo, na cidade do Rio e no país todo, o sentimento que vai da raiva à impotência se apodera de todos. Não tem banda de musica, nem discurso, nem guarda de honra; o presidente da FIFA, que é baixo, magro e de óculos abraça a estatueta de ouro (a original que posteriormente fora roubada da sede da antiga CBD), perdido naquele corre-corre o encontrou Obdulio, chegou até ele, pegou o troféu e nem agradeceu, “Eu não falo inglês“ justificou-se depois.
À noite ele sai sozinho do hotel em Copacabana onde se hospedava a delegação, a tristeza paira no ar, a frase que mais escuta é: “Obdulio nos ganho o jogo”. Continua caminhando, anônimo, jururu, até não conseguir segurar mais aquele peso n’alma, e num bar entra, pede uma cerveja, ao ser reconhecido pede desculpas, manda servir bebidas para todos os presentes. Obdulio foi o último em chegar ao hotel, já era meia-manhã, chegou num caminhão escoltado por uma multidão bêbada, que o acompanhou como em um cortejo etílico por todos os bares de Copacabana, Ipanema e Leblon.
Muitas historias contam sobre a generosidade que ele semeou durante a vida. Numa viagem da seleção uruguaia, ao Chile, toda a delegação se encantou com um menino de rua, “rotito” ou “roto” como dizem naquele país, o menino foi convidado a passar uma semana, realizando seu sonho que era - assistir um clássico no Estádio Centenário. Aquela viagem calou fundo na alma do menino. Ao completar a maioridade foi ao Uruguai, onde tinha passado momentos tão felizes e fora tão bem tratado. Mais a vida muda... também as pessoas, os dirigentes esqueceram das promessa feitas ao então menino. O jovem de agora encontrava-se na rua, sem trabalho, sem amigos, pois foi Obdulio, tão crítico com os dirigentes que acolheu o jovem na sua casa, comprou remédios, cuido dele até sua morte. O jovem chamava-se Nestor Pinilla.
O desprendimento de Obdulio com o dinheiro era tão grande, que beirava a irresponsabilidade, quando liderou uma greve de jogadores, que paralisou o futebol por vários meses, ele voltou a trabalhar como sapateiro e o time argentino de Boca mandou um emissário para contratá-lo, seria a salvação econômica de sua família, seria, por que ele não aceitou, dizia que era uruguaio, gostava de jogar no Centenário e se Boca queria contratar-lhe teria que jogar em Montevidéu.
Ele era negro e casou com uma descendente de imigrantes Húngaros, loirinha de olhos azuis. Podem imaginar o preconceito que o casal teve que enfrentar naquela época? Ele nunca se preocupou muito com o conforto e as “modernidades”, quem compro uma geladeira foi a esposa. Surpreendeu-se quando chegou em casa e quis saber de onde ela havia arrumado dinheiro, ao que sua esposa respondeu: “Com o dinheiro que tenho tirado de seus bolsos, a cada noite que chegas bêbado, nego safado”.

10 de mai. de 2009

Gloria de Dourados



Acabamos de regressar de um encontro Educacionista, realizado em uma pequena cidade de Mato Grosso do Sul.
Em nosso grupo havia 14 pessoas e percorremos mais 1.500 km, de Brasília até Gloria de Dourados.
Nós, Educacionistas, acreditamos nas idéias do professor, humanista, atual Senador: Cristovam Buarque, e fazemos parte de um movimento social, ainda informal e plural: Movimento Educacionista.
O encontro foi organizado por Eustáquio Alves sua esposa Raulene, com a ajuda de seus familiares, tudo muito simples e muito eficiente, como são as coisas da gente do interior.
O suporte e incentivo do deputado Onevan Matos foi fundamental para o sucesso do encontro.
Saímos as zero hora da sexta-feira e quatorze horas depois chegamos a Campo Grande.
A “Cidade Morena” nos recebeu com seu clima agradável e gente amistosa. Após uma ducha reparadora, nos deslocamos em nosso microbus super confortável, até a moderna Assembléia Legislativa Matogrossense, ali se realizou um evento donde participaram varias autoridades sendo encerrado com a fala do senador Cristovam, o publico lotou o auditório para 360 pessoas, e, como de costume, o senador respondeu perguntas até altas horas. As inquietudes do publico eram as mesmas de todos os brasileiros: as condições da educação no país, a realidade de seus atores (principalmente os professores), seu futuro, as novas perspectivas, as idéias do senador para gerar mudanças.
Passava das 22 horas, reiniciamos nossa viagem, o último trecho nos esperava, nossos eficientes motoristas Junior e Bill, sofreram com a falta de sinalização nas rodovias sul-mato-grossense. Após alguns quilômetros a mais, feitos entre Dourados e Fátima do Sul, chegamos a Gloria de Dourados (menos de 10.000 habts), às 3 horas da madrugada ao hotel Prata, todos cansados e sonolentos.
O sábado amanheceu radiante, o cansaço deixou marcas nos rostos dos educacionistas mais os corações pareciam de crianças, plenamente revigorados.
O evento da manhã foi no auditório da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, com mais de duzentas pessoas. À mesa presidida por Eustáquio Alves, contou com uma dúzia de autoridades da cidade. Uma placa colocada as presas, na noite anterior, lembraria a presença do senador naquela cidade, Cristovam descobriu a placa por acaso enquanto tirava fotos, seu descobrimento causo-lhe uma alegria genuína e fez questão de tirar o resto das fotos embaixo da placa.
Ao meio dia mato-grossense ao finalizar o evento, os educacionistas participaram de uma caminhada pela cidade, juntamente com a comunidade e autoridades.
No Salão Paroquial um farto almoço esperava por todos, foram quase quinhentos comensais. Na mesa das personalidades Eustáquio sentava ladeado por um senador e um deputado, fato histórico na pequena cidade.
Ali presenciamos o nascimento de uma liderança, nossos desejos de êxito ao jovem Eustáquio Alves.
Na parte da tarde realizaram-se as oficinas, algum atraso que teve não anulou o brilho da participação massiva dos jovens.
As oficinas com participação ativa do público foram: 1- Filosofia, Ética e Moral, com os moderadores Carlos e Harrison Socorro e Vanessa; 2- Educação, com os moderadores Gacy e Rafael; 3- Desenvolvimento, com a moderadora Fernanda; 4- Contexto Político, com os moderadores Israel, Edna e Sônia; 5- Ecologismo, com os moderadores Julia e Galheno; no quiosque cultural, distribuindo material de divulgação e livros, estava Raúl e registros fotográficos o Rudolfo.
Na plenária pudemos escutar uma mensagem muito clara dos grupos de trabalho, uma mensagem que fala da confiança no futuro e da vontade de trabalhar, para mudar realidades que nos incomodam.

Ao finalizar o evento doamos (Gacy e Raúl), aos organizadores do evento, um “kit” de livros para ser entregue à uma biblioteca de comunidade carente, logo uma provocação aos presentes: percorremos-nos mais de 1.500 kms para doar aqueles livros, eles que moram mais perto, não teriam livros em sua casa que poderiam ser doados? Entendemos que fazer circular livros é sociabilizar o conhecimento, essa é uma autentica ação Educacionista. A continuação reafirmamos dita ação, sorteando livros entre o publico fazendo a alegria de media dúzia de educacionistas.
Finalizado o evento, a equipe de trabalho e apoio partiu para uma confraternização, no restaurante mais chique da cidade, o único com musica ao vivo, que está localizado de frente para a praça, de onde o povo do outro lado da rua, assistia ao espetáculo que ali aconteceu.
O grupo de Brasília contagiou de alegria a noite gloriadouradense. Com música e muita cerveja comemorava uma longa e renovadora jornada, bailando freneticamente e disputando partidas de truco à moda matogrosense, nos apanho a madrugada, bem no meio da calçada.
No domingo compartilhamos um almoço na casa de Raulene, e às 15 horas iniciamos um regresso que acabaria as 10 da manhã, da segunda feira em Taguatinga Norte /DF.
No despertar de idéias fervilhantes nos levou, no meio da estrada, a uma reunião de debates e balanços.

Na hora da avaliação, certamente como logro primário, nos resta após MS, a sensação nítida do crescimento do ME. Esta data nos sinaliza alguns marcos: coisas bem feitas que devem ser aprofundadas e outras corrigidas.
Todo este curto caminho percorrido pelo Movimento Educacionista nos deixa algumas revelações: muito mais caminho resta por andar, um congresso nacional se impõe nesta hora e já estamos trabalhando para isso acontecer.