A historia guarda um lugar muito especial para um seleto grupo de pessoas também especiais. Certamente Obdulio Varela faz parte deste grupo. Ele não transcendeu pela sua longa e vitoriosa carreira de futebolista, nem pela sua luta por vencer o alcoolismo, si quer por suas reservas morais e éticas, quem o colocou na historia foi apenas uma atitude pessoal, uma ação que não duro mais de 2 minutos, suficiente para ser incluída como exemplo nos cursos de mestrado de sociologia de varias faculdades do país.
Obdulio nasceu pobre e pobre morreu, não poderia ser diferente, suas formas de ver o mundo e senso de justiça social batiam de frente com o incipiente profissionalismo que começava a se engendrar por aqueles anos.
O apelido que ficou conhecido foi “vinacho” pela sua afecção pelo néctar das uvas, mais isso foi antes da grande final, logo seria apontado como “negro jefe”, “gran capitan” ou “Leão de Maracanã”. E assim entrou na historia.
O alcoolismo consegue vencer com apoio da família, dos amigos, ficou um ano sem jogar mais voltou e melhor do que era antes.
Quando joga a final do mundial de 1950 fazia já oito anos que era capitão do time, tinha enfrentado muitas vezes o Brasil, ganhado e perdido. A última vez, uns meses antes com vitória brasileira por 2 a 1; o jogo da seleção “canarinho” era bem “manjado”: toque e gol, toque e gol, depois que entra um, abre-se a porteira e é goleada.
Foi este conhecimento do jogo do adversário que leva a Obdulio a paralisar a partida, necessitava esfriar o rival e revitalizar a moral do seu time. Foi justamente nesta hora que a historia o escolhe para ser imortal. Brasil abre o placar com gol de Friaça e o bandeirinha marca impedimento no começo da jogada, mais o gol e o rugido de 200.000 fanáticos o levam a se retratar e nunca mais reconhecer a nulidade da jogada. Anular aquele gol poderia significar um risco muito alto para a saúde da trio arbitral.
Naquele momento o capitão sabe do risco que correm, caminha lentamente até seu próprio gol recolhe a bola que o goleiro Maspoli, abatido, se negava a repor e a coloca embaixo de seu braço, então começa a caminhada para a gloria. Primeiro reclama com o bandeirinha, depois com o juiz. Ele não fala inglês e o juiz não fala espanhol, um interprete é chamado segundo marca a regra; e assim passa se o tempo, o tempo necessário para que a multidão passe da louca alegria ao nervosismo raivoso, os jogadores impacientes, a torcida enfurecida, e ele lá, com a bola embaixo do braço passeava pelo campo, como um general onipotente.
Antes de começar o jogo pediu a seus companheiros para não olharem para as arquibancadas, sabe o poder de intimidação que exercem as multidões. Agora, com o jogo parado faz exatamente o contrario: olha de maneira desafiadora a multidão que o insulta, e ele sereno, sem soltar a bola, se torna alvo do ódio da turma que grita: “Filho da puta!!! Filho da puta...”, podem imaginar esse coro de 200.000 vozes? Suficiente para deixar os jogadores desassossegados e nervosos. Quando recomeça o jogo apenas fala para seus companheiros: “O jogo começa agora.”
O resultado a gente conhece: Uruguai apertou as marcas, começou a atacar, mais pela direita onde Giglia infernizava a Bigode e, acabou virando o jogo.
No Rio de Janeiro ninguém duvidava da vitória, a festa estava pronta, guarda de honra e banda de musica amimariam a entrega da taça.
O presidente da Fifa, Jules Rimet tinha ensaiado o discurso que faria para aquela multidão extasiada, o percurso entre o palco e o campo de jogo é longo, quando Jules Rimet empreende a caminhada por corredores e escadas o jogo esta 1 a 1, este resultado da o titulo ao Brasil, até ali ninguém duvidava disso, quando ele chega ao campo o silencio é pesado, Uruguai acabava de virar o jogo pouco antes de terminar.
O apito do juiz desata um pandemônio no campo de jogo, na cidade do Rio e no país todo, o sentimento que vai da raiva à impotência se apodera de todos. Não tem banda de musica, nem discurso, nem guarda de honra; o presidente da FIFA, que é baixo, magro e de óculos abraça a estatueta de ouro (a original que posteriormente fora roubada da sede da antiga CBD), perdido naquele corre-corre o encontrou Obdulio, chegou até ele, pegou o troféu e nem agradeceu, “Eu não falo inglês“ justificou-se depois.
À noite ele sai sozinho do hotel em Copacabana onde se hospedava a delegação, a tristeza paira no ar, a frase que mais escuta é: “Obdulio nos ganho o jogo”. Continua caminhando, anônimo, jururu, até não conseguir segurar mais aquele peso n’alma, e num bar entra, pede uma cerveja, ao ser reconhecido pede desculpas, manda servir bebidas para todos os presentes. Obdulio foi o último em chegar ao hotel, já era meia-manhã, chegou num caminhão escoltado por uma multidão bêbada, que o acompanhou como em um cortejo etílico por todos os bares de Copacabana, Ipanema e Leblon.
Muitas historias contam sobre a generosidade que ele semeou durante a vida. Numa viagem da seleção uruguaia, ao Chile, toda a delegação se encantou com um menino de rua, “rotito” ou “roto” como dizem naquele país, o menino foi convidado a passar uma semana, realizando seu sonho que era - assistir um clássico no Estádio Centenário. Aquela viagem calou fundo na alma do menino. Ao completar a maioridade foi ao Uruguai, onde tinha passado momentos tão felizes e fora tão bem tratado. Mais a vida muda... também as pessoas, os dirigentes esqueceram das promessa feitas ao então menino. O jovem de agora encontrava-se na rua, sem trabalho, sem amigos, pois foi Obdulio, tão crítico com os dirigentes que acolheu o jovem na sua casa, comprou remédios, cuido dele até sua morte. O jovem chamava-se Nestor Pinilla.
O desprendimento de Obdulio com o dinheiro era tão grande, que beirava a irresponsabilidade, quando liderou uma greve de jogadores, que paralisou o futebol por vários meses, ele voltou a trabalhar como sapateiro e o time argentino de Boca mandou um emissário para contratá-lo, seria a salvação econômica de sua família, seria, por que ele não aceitou, dizia que era uruguaio, gostava de jogar no Centenário e se Boca queria contratar-lhe teria que jogar em Montevidéu.
Ele era negro e casou com uma descendente de imigrantes Húngaros, loirinha de olhos azuis. Podem imaginar o preconceito que o casal teve que enfrentar naquela época? Ele nunca se preocupou muito com o conforto e as “modernidades”, quem compro uma geladeira foi a esposa. Surpreendeu-se quando chegou em casa e quis saber de onde ela havia arrumado dinheiro, ao que sua esposa respondeu: “Com o dinheiro que tenho tirado de seus bolsos, a cada noite que chegas bêbado, nego safado”.
Obdulio nasceu pobre e pobre morreu, não poderia ser diferente, suas formas de ver o mundo e senso de justiça social batiam de frente com o incipiente profissionalismo que começava a se engendrar por aqueles anos.
O apelido que ficou conhecido foi “vinacho” pela sua afecção pelo néctar das uvas, mais isso foi antes da grande final, logo seria apontado como “negro jefe”, “gran capitan” ou “Leão de Maracanã”. E assim entrou na historia.
O alcoolismo consegue vencer com apoio da família, dos amigos, ficou um ano sem jogar mais voltou e melhor do que era antes.
Quando joga a final do mundial de 1950 fazia já oito anos que era capitão do time, tinha enfrentado muitas vezes o Brasil, ganhado e perdido. A última vez, uns meses antes com vitória brasileira por 2 a 1; o jogo da seleção “canarinho” era bem “manjado”: toque e gol, toque e gol, depois que entra um, abre-se a porteira e é goleada.
Foi este conhecimento do jogo do adversário que leva a Obdulio a paralisar a partida, necessitava esfriar o rival e revitalizar a moral do seu time. Foi justamente nesta hora que a historia o escolhe para ser imortal. Brasil abre o placar com gol de Friaça e o bandeirinha marca impedimento no começo da jogada, mais o gol e o rugido de 200.000 fanáticos o levam a se retratar e nunca mais reconhecer a nulidade da jogada. Anular aquele gol poderia significar um risco muito alto para a saúde da trio arbitral.
Naquele momento o capitão sabe do risco que correm, caminha lentamente até seu próprio gol recolhe a bola que o goleiro Maspoli, abatido, se negava a repor e a coloca embaixo de seu braço, então começa a caminhada para a gloria. Primeiro reclama com o bandeirinha, depois com o juiz. Ele não fala inglês e o juiz não fala espanhol, um interprete é chamado segundo marca a regra; e assim passa se o tempo, o tempo necessário para que a multidão passe da louca alegria ao nervosismo raivoso, os jogadores impacientes, a torcida enfurecida, e ele lá, com a bola embaixo do braço passeava pelo campo, como um general onipotente.
Antes de começar o jogo pediu a seus companheiros para não olharem para as arquibancadas, sabe o poder de intimidação que exercem as multidões. Agora, com o jogo parado faz exatamente o contrario: olha de maneira desafiadora a multidão que o insulta, e ele sereno, sem soltar a bola, se torna alvo do ódio da turma que grita: “Filho da puta!!! Filho da puta...”, podem imaginar esse coro de 200.000 vozes? Suficiente para deixar os jogadores desassossegados e nervosos. Quando recomeça o jogo apenas fala para seus companheiros: “O jogo começa agora.”
O resultado a gente conhece: Uruguai apertou as marcas, começou a atacar, mais pela direita onde Giglia infernizava a Bigode e, acabou virando o jogo.
No Rio de Janeiro ninguém duvidava da vitória, a festa estava pronta, guarda de honra e banda de musica amimariam a entrega da taça.
O presidente da Fifa, Jules Rimet tinha ensaiado o discurso que faria para aquela multidão extasiada, o percurso entre o palco e o campo de jogo é longo, quando Jules Rimet empreende a caminhada por corredores e escadas o jogo esta 1 a 1, este resultado da o titulo ao Brasil, até ali ninguém duvidava disso, quando ele chega ao campo o silencio é pesado, Uruguai acabava de virar o jogo pouco antes de terminar.
O apito do juiz desata um pandemônio no campo de jogo, na cidade do Rio e no país todo, o sentimento que vai da raiva à impotência se apodera de todos. Não tem banda de musica, nem discurso, nem guarda de honra; o presidente da FIFA, que é baixo, magro e de óculos abraça a estatueta de ouro (a original que posteriormente fora roubada da sede da antiga CBD), perdido naquele corre-corre o encontrou Obdulio, chegou até ele, pegou o troféu e nem agradeceu, “Eu não falo inglês“ justificou-se depois.
À noite ele sai sozinho do hotel em Copacabana onde se hospedava a delegação, a tristeza paira no ar, a frase que mais escuta é: “Obdulio nos ganho o jogo”. Continua caminhando, anônimo, jururu, até não conseguir segurar mais aquele peso n’alma, e num bar entra, pede uma cerveja, ao ser reconhecido pede desculpas, manda servir bebidas para todos os presentes. Obdulio foi o último em chegar ao hotel, já era meia-manhã, chegou num caminhão escoltado por uma multidão bêbada, que o acompanhou como em um cortejo etílico por todos os bares de Copacabana, Ipanema e Leblon.
Muitas historias contam sobre a generosidade que ele semeou durante a vida. Numa viagem da seleção uruguaia, ao Chile, toda a delegação se encantou com um menino de rua, “rotito” ou “roto” como dizem naquele país, o menino foi convidado a passar uma semana, realizando seu sonho que era - assistir um clássico no Estádio Centenário. Aquela viagem calou fundo na alma do menino. Ao completar a maioridade foi ao Uruguai, onde tinha passado momentos tão felizes e fora tão bem tratado. Mais a vida muda... também as pessoas, os dirigentes esqueceram das promessa feitas ao então menino. O jovem de agora encontrava-se na rua, sem trabalho, sem amigos, pois foi Obdulio, tão crítico com os dirigentes que acolheu o jovem na sua casa, comprou remédios, cuido dele até sua morte. O jovem chamava-se Nestor Pinilla.
O desprendimento de Obdulio com o dinheiro era tão grande, que beirava a irresponsabilidade, quando liderou uma greve de jogadores, que paralisou o futebol por vários meses, ele voltou a trabalhar como sapateiro e o time argentino de Boca mandou um emissário para contratá-lo, seria a salvação econômica de sua família, seria, por que ele não aceitou, dizia que era uruguaio, gostava de jogar no Centenário e se Boca queria contratar-lhe teria que jogar em Montevidéu.
Ele era negro e casou com uma descendente de imigrantes Húngaros, loirinha de olhos azuis. Podem imaginar o preconceito que o casal teve que enfrentar naquela época? Ele nunca se preocupou muito com o conforto e as “modernidades”, quem compro uma geladeira foi a esposa. Surpreendeu-se quando chegou em casa e quis saber de onde ela havia arrumado dinheiro, ao que sua esposa respondeu: “Com o dinheiro que tenho tirado de seus bolsos, a cada noite que chegas bêbado, nego safado”.
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