30 de jun. de 2008

Permita-se enamorar!

Estar apaixonado! Melhor seria dizer: “estar enamorado” *, pois apaixonar-se está ligado a um sentimento que extrapola, excede, em termos de intensidade sobrepondo a razão, a lógica. Seguindo mais adiante nesta análise, temos a palavra paixão. Nossa cultura diz que a paixão é uma “coisa” boa, um sentimento bom, mas não é apenas este o seu significado. Paixão além de se referir a quem está apaixonado, também é sinônimo de sofrimento. Não há quem não tenha sofrido por paixão.
Muitas vezes é o medo do sofrimento que não nos permite sermos verdadeiros em nossos sentimentos, passando a medir nossas atitudes, nossas palavras, nossos gestos e, de repente, quando olhamos para o espelho dizemos: “- não era aquilo que eu queria dizer ou fazer”. Este receio está intimamente ligado ao medo de perder o ser amado. Acreditamos que escondendo nossas falhas a pessoa amada só verá nossas qualidades, só nos verá bonitos, arrumados com saúde, penteados.
É fato que corremos o risco de não sermos exatamente o que o outro deseja, mas criamos situações difíceis e, pôr vezes irremediáveis, aderindo a subterfúgios, máscaras para representar alguém que julgamos agradar ao outro e que de maneira alguma, se parece conosco. Uma relação baseada em aparências, nunca poderá refletir se estamos agindo corretamente. É neste ponto que devemos falar, ou melhor conversar, quando conversamos, os dois têm a chance de falar , expor seu ponto de vista suas intenções. Crie oportunidades para o diálogo franco, é um excelente momento de crescimento pessoal e do casal, devemos oportunizar a chance das pessoas reverem suas atitudes, aprender novas maneiras de compartilhar podendo ver a riqueza de experiências que o outro traz. Muita confusão pode ser evitada quando expomos nossos pensamentos e intenções e permitimos que nosso(a) companheiro(a)também o faça.
Sejamos francos: desperdiçaremos uma ótima chance de resolver as coisas quando nos fechamos ou colocamos uma “pedra” pôr cima de uma questão mal resolvida, fingindo que está tudo certo, quando na verdade ainda não está. Resolver algo é encerrar o caso e não deixar arestas para serem aparadas no futuro. Pessoas que guardam mágoas, ou questões mal solucionadas não percebem que estão dando manutenção à um câncer, a um monstro que irá pouco a pouco devorar a relação do casal. Dói mexer em um machucado, nós bem sabemos, pois fazendo analogia, quando éramos crianças e arranhávamos o joelho. Tínhamos que permitir que viessem com algodão, álcool, a fim de limpar a ferida. Muitas vezes é tão necessário e doido, limparmos os machucados do coração, para que não infeccione, quanto uma ferida aberta no joelho.
Faço uma sugestão. Enamore-se e permita que o outro enamore-se de você. Corra o risco, mantendo em mente o objetivo de aprender, conhecer, perdoar, amando profundamente e permitindo que o outro expresse seu amor. Situações conflitantes são excelentes oportunidades de crescimento e não significa, necessariamente que haverá um rompimento.
Se neste ponto, você teve dúvidas, é bom dar uma parada e questionar, a luz de realmente ver os fatos sem egoísmos, objetivando a solução. Desarme-se que fatalmente seu(sua) parceiro(a) se desarmará. Pense: só ataca quem se sente atacado ou injustiçado!

NOTA DE RODAPÉ
· Enamorar - inspirar amor em alguém, encantar.
· Paquerar- vigiar com intenção de namoro
· Namorar – procurar inspirar amor
· Paixão – emoção levado a alto grau de intensidade sobrepondo a lucidez e razão.


Gacy

FUGA


Ao subir a escadaria de madeira, perguntava-se: “ - Estaria acordada ou dormindo?”
Parecia tudo tão real... mas, por que a dúvida?
Chegando ao topo, seguiu pelo corredor rapidamente. O medo de estar sendo seguida cresceu.
Forçou a porta do seu lado esquerdo, entrando.
Todo ambiente estava às escuras e não conseguia identificar, se quer, a existência de móveis.
Pensava: “Ninguém me encontrará. Aqui, estarei segura.” Abaixou-se, ficando em silêncio total. Neste momento, tomada de inquietação e insegurança, levantou-se, seguindo até um ponto iluminado, do lado oposto ao que se encontrava.
- Uma janela!!! Abre-a com cuidado para não fazer ruídos
Avista uma escada logo abaixo do parapeito. Não Pensa duas vezes - desce.
Ao pisar no gramado, volta a esperança. Corre ao encontro do portão. Parece ser sua única saída.
Enquanto corria, a neblina ficava mais forte, o frio mais cortante e, crescia o medo de não conseguir escapar.
A grama molhada a fez escorregar. Ao virar-se para ver de quem era a mão úmida, que a segurava pelo ombro, gritou. O som estridente foi tão alto que a fez acordar.
Sentou-se na beirada da cama para respirar aliviada, antes de ver que suas roupas estavam molhadas e em suas mãos... haviam restos de grama....


Gacy Simas

13 de jun. de 2008

O Barulhento

- Enéas!! Você tem que parar com esse barulho à noite!
- Você exagera, meu amor...
- Até os vizinhos já reclamaram, além do mais, poderia trabalhar em outro horário!? Tem que ser sempre à noite? Madrugadas adentro?
- Clotilde, meu amor! Sabes bem que a inspiração só me aflora na alma de artista, quando as estrelas aparecem.
- Tudo bem! Tudo bem! Mas, pelo amor de Deus, Enéas, tenta não fazer tanto barulho.
- Clotilde, carinho meu, amada do meu coração, tu sabes que não sei usar computador, e não me adapto às canetas modernas, por isso continuo escrevendo com pena!!!!!!!!!
Raúl

Elo Perdido


Aqueles dois macaquinhos jovens, quase adolescentes, estavam a se conhecerem. Foram para uma das mais altas ramas da frondosa árvore, escondidos da vista dos mais velhos. Para eles tudo era novidade, assim, começaram a se tocar, a descobrir novas sensações, até que a macaquinha descobriu o sexo do seu amiguinho, apertou, puxo, ele arregalou os olhos enormes. Desequilibrou-se, abraçou-se a ela, em vão, tentando recuperar o equilíbrio, mas... os caíram juntos. Estavam em uma rama muito alta e o tombo foi muito grande. Caíram abraçados, sentados, quebraram os rabos começando a chorar de dor. Outros macaquinhos chegaram e logo atrás as mães. Os pais, estes ficaram muito bravos, os xingaram, que vergonha! Decidirão dar uma lição: expulsariam os dois da árvore, da família, da floresta, os rabos, em lugar de consertar, arrancaram de vez.
Assim, os macaquinhos, cheios de dor e vergonha, saíram andando. Sem rabo, não mais poderiam pular pelas árvores, agora só mesmo caminhando, coisa que não estavam acostumados a fazer. Foram andando... andando até a floresta findar.
Chegaram ao mar, que não conheciam, estavam cansados e com sede, tentaram beber mas não gostaram, pois era muito salgada. Sim, gostaram foi do banho do mar! Sentiam-se tão cansados que se deitaram na areia quentinha, e ali, adormeceram. Quando acordaram descobriram que o sol também queimava.
Foram passando os dias e os macaquinhos sem rabo foram aprendendo novas coisas, a comer peixe, a nadar, a fazer amor deitados... Assim, com as duas mãos livres podiam se acariciar. Descobriram a fala. O sol queimava seus corpos e os pêlos começaram a cair.
Pelo exercício diário das caminhadas, suas pernas foram se fortalecendo e ficando maiores, mais fortes. Desenvolveram novos hábitos e, com a nova dieta, o cérebro estava ficando maior. Começaram a viajar, sempre perto do mar, longe das florestas, de onde tinham sido desterrados. Não estariam mais seguros, posto que só estivessem a salvo, pulando pelas árvores, mas no chão seriam presas fáceis das feras.
Essa é mais ou menos a história do Elo Perdido que os cientistas nunca puderam explicar.
A propósito, alguns teólogos chamaram nossos macaquinhos sem rabo de Adão e Eva.
E como vocês podem ver, nossa civilização começou com um tombo de uma árvore.
Raúl

10 de jun. de 2008

Presença


Uma tradição milenar segue seu curso, sob olhos atentos e até certo ponto curiosos, admirados, de um recém chegado ao mosteiro.
Enquanto os primeiros monges aproximavam-se adentrando ao grande salão, caminhando a passos tranqüilos e ritmados, eu observava seus trajes. Aquele vestuário era simples mas ganhava vida e pompa no contexto. Meus pensamentos vagavam, imaginando questões que não deveriam ter lugar em uma cerimônia como aquela.
Novos monges iriam alcançar um grau mais elevado, presumia.
Por falar em presumir... O que teria me levado até ali?
Agora percebia. As pessoas, em torno de mim, estavam tão concentradas, interiorizadas espiritualmente, que pareciam não me ver... ou será que realmente não me viam???
Olhei-me. Não pude deixar de pensar, que se fosse ao contrário, e eu estivesse no lugar de um dos monges, é claro, que perceberia a presença de outra pessoa, especialmente destoando de um quadro tão harmônico.
Por falar em destoar, fui “pego” pelo olhar de um dos monges que embora estivesse do outro lado da sala, me viu.
Não sei se cumprimento sorrindo ou não. Por via das dúvidas, é melhor fingir que não vi.
Tento me concentrar na cerimônia, mas... os olhos do monge me perseguem. Gostaria de estar invisível.
Está me deixando desconcentrado!
Não há nada de mais em olhar para outra pessoa. Vou parar de pensar e caminhar em sua direção para cumprimentá-lo.
Não cheguei a dar três passos e estava bem de frente para o monge.
Por que não se levanta? Que falta de educação! Eu teria levantado!
Tudo bem. Me sentarei à sua frente para provar amizade e humildade.
Olho direto em seus olhos. Ele parece não ver meu rosto, mas me sinto inteiramente revelado. Seu olhar é profundo e aconchegante. Me parece mais velho do que antes, me parece mais feliz... me parece familiar....
Alguns instantes se passaram, ou seriam anos...
Não importa!
Um jovem perplexo e admirado, aproxima-se com “ar” arrogante. Com certeza acha-me sem educação por não levantar-me para cumprimentá-lo.
Deixarei que perceba a grandeza e o valor da humanidade. Quando isso acontecer, ele se sentará diante de mim.

Dádivas


As Borboletas Azuis, do amor e do ódio, trouxeram dos campos secos um presente: “Morangos venenosos”, que devem ser comidos ou bebidos, conforme a consciência daquele que habita a cela das sombras e, se assim o aceitar.
Em tempos de neve, as Borboletas Azuis do amor e do ódio, hibernam. Quem oferece as dádivas, das “Tentações Adormecidas”, é o Mestre do Coração em Chamas. Aquele que for agraciado, terá o poder de fazer aparecer, à sua frente, um inimigo antigo, passando assim, pelas tentações da ira e da bonança extremas. Dependendo do lado de sua escolha, romperá o cordão doloroso da primavera.
Neste momento poderá sentir um aroma de sândalo ou jasmim.
Os rastros na neve serão apagados, escrevendo o futuro, no livro eterno da Vida e da Morte.
Gacy