26 de mai. de 2008

Cucaracha Paulista


A moça caminhava serelepe, naquela manhã, atrasada como sempre para seu serviço, absorta no trabalho que a aguardava. O sol começava a esquentar a cidade e esta já fervilhava; o formigueiro humano tomava conta das calçadas. No ponto de táxis os motoristas costumeiros, e os papos de todas as manhãs naquele horário: o tempo, os resultados do futebol na noite anterior e a última BBB peladona. Naquele momento eram três taxistas e o do meio devorava o terceiro pastel com muito ketchup e caldo de cana (tem coisa mais paulista que pastel com ketchup?); era o mais gordo, aliás, bastante gordo e também o mais brincalhão dos três. Eles pararam para prestar atenção na cena que se desenrolava à sua frente: Uma barata enorme (e nojenta), ousou cruzar o caminho da moça (aquela moça!), ela não queria pisar, mas teimosa e tonta fazia a coitada dançar, pra lá, não! Pra cá! Aí, pronto!! O pé dela, calçando uma delicada botinha de camurça marrom aterrizou a centímetros da tonta e ela não dispensou a oportunidade, cheiro gostoso, talvez pegasse uma carona, subia a coitada pela bota chegando à perna da calça e a moça, coitada! Sua dança se tornou frenética, mistura de sapateado com frevo, querendo se livrar da nojenta. Os taxistas riam até não poder mais, o gordo se lambuzava de ketchup, que escorregava pela barba, ameaçando sujar a camisa branca impecável que guardava seu abdômen proeminente a tremer de riso ante tão hilária situação. Afinal, era mesmo engraçado ver a infeliz secretária balançando ali, bem na sua frente peitos, bunda e coxas, como se fosse carnaval. A barata agüentou como pode os embates das pernas hostis, já escorregava quase caindo, se segurava na ponta da bota e aí... o chute final; a barata saiu despedida com tanta força que parecia um foguete, uma bala, quase uma barata bala. Para aterrizar onde?
Na barba do gordo!
A situação mudou: quem observava era ela. Com um alívio, quase prazer, os amigos ficaram sérios, logo acharam graça também, vendo aquele brincalhão se auto-flagelando, quase. Para se livrar da barata, ele ficou vermelho, engasgou, derramou o caldo de cana nos sapatos há pouco engraxados e desferia sopapos que não atinavam na maldita: a rua toda parou para ver tamanho vexame. Finalmente, a intrusa foi despejada, saiu em disparada, achou um buraco e se mandou.
Agora só sairia a noite, nem barata consegue aturar a histeria e o nervosismo de São Paulo durante o dia.
Raúl